mas isso seriam pormenores, detalhes tão irrelevantes que só serviriam para nos pôr a pensar no que já não volta.
Serviria também para adiar o que já não tem adiamento possível,
talvez porque eu própria já não queira, ou porque o morador do meu peito, imperador do meu destino,
já não quer…
Sabes? No fundo só te escrevo por uma questão de detalhes,
porque os meus livros estão fartos dos meus olhos e dedos sedentos de respostas,
Os meus poemas estão cansados de outros tempos
e as minhas plantas estão com cara de poucos amigos e os amigos insistem em perguntar por ti.
Escrevo-te porque quem cá vem de visita diz que há demasiado de ti nesta casa e eu, com cara de desentendimento fingido, continuo a dizer que não noto nada.
Mas noto, claro que noto, mesmo que sejam só detalhes mínimos.
Então peço-te que assim que possas passes cá por casa e leves os sinais que cá deixaste,
os restos que te esqueceste e que, desculpa que te diga,
por serem só restos,
também não os quero.
Vem e leva os quadros nas paredes onde pintaste a tua história;
os trofeus que um dia me imprecionaram, confesso,
e a única fotografia em que deste espaço para mim,no teu espaço.
Leva também o cinzeiro com as pontas dos teus cigarros e com os estilhaços das tuas expectativas,
o copo onde deixavas palavras em troca de conforto e as folhas com rascunhos de poemas que nunca foram para nós,
talvez porque, a bem da verdade, nunca tenhamos sido nós.
Passa cá e não tenhas medo.
Já faz muito tempo desde que sequei a última lágrima vertida em teu nome,
já faz muito tempo que arrumei a cabeça e o coração e ensinei-me a ser eu a dona dos meus paços.
Por isso, vem e não tenhas medo.
Só te peço agora que sejas tão livre como eu, e que o pó do passado fique onde lhe pertense e com o que te pertence, construas para ti o teu caminho.
Como te disse o que me leva a escrever-te são só detalhes, mas são os detalhes os tijolos de uma história e eu preciso do espaço dos teus detalhes para recomeçar por mim.
É aquilo a que uns chamam de amor próprio, mas eu chamo de recomeço.
Sei que quando chegares e levares o que é teu, fechamos a porta ao passado, damos um aperto de mãos na despedida e num sorriso apagado perguntamo-nos sem falar: como foi que isto aconteceu?
Mas as palavras ficam no silêncio dos olhos, porque tudo o que se passou foram detalhes, e pouco importa agora o que ficou por acontecer.
Termino o que me levou a escrever-te dizendo-te que a vida é feita de Amor e
o Amor é feito de detalhes — que a nossa história seja apenas um detalhe, numa vida inteira plena de Amor…
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