Uma dedicatória, por Patrícia Magalhães e Joana Rita, a todos os que sofrem, e a todos os que lutam por, e contra esta devastação...Ilustração © by Patrícia Magalhães
Fogo
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Arde-me este fogo cá dentro.
Entra-me pelos olhos, pelos ouvidos, posso senti-lo na pele,
na alma, queimando e dilacerando tudo em mim
e nos que o combatem, nos que o enfrentam, como eu não faço,
porque não presto, porque não sirvo.
Mas... arde-me este fogo cá dentro, e enlouquece-me, enerva-me,
magoa-me, e faz-me chorar pelos que o combatem, sentem e pelos que o odeiam
por todos os motivos, ainda mais que eu.
Arde-me este fogo cá dentro, e por fora,
deixando negros os meus sonhos de um lugar melhor, de um mundo melhor,
de um fim de interesses que, sei e pressinto, que não acaba mais… nunca mais.
Arde-me este fogo cá dentro, e sufoca-me.
Não tenho voz que chegue e sirva para gritar que é preciso pará-lo,
que a terra e o céu estão negros com o fumo que abunda,
e com a tristeza e o medo de quem chora
por tudo o que perdeu…
Arde-me este fogo cá dentro, e entristece-me.
Porque quando não houver mais nada somos só pó e cinza,
como o pó de uma terra queimada, como a cinza do que já existiu mas o fogo levou, o vento soprou
e o manto negro cobriu…
Arde-me este fogo cá dentro, e queima-me também as esperanças.
Sobra-me apenas a saudade do que era verde e agora é só lembrança,
e a certeza de que ficou nas mãos de quem luta corajosamente,
a sorte de quem espera encontrar depois do fogo,
o que sobrou de toda uma vida.
Um começo do recomeço, depois de tanta perda,
depois de tamanho sufoco,
que nem uma chuva de esperança será capaz de apagar…
*
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