Às vezes não sei se sou quem me julgo ser,
Vislumbro-me num mar de vidas como a minha, guiada apenas ao sabor de uma intuição tão própria.
A vida, pintada de mil e uma cores, ofusca-me mas eu não sei desistir,
e sorrio-lhe para lá do que os meus olhos podem ver,
e desejo-a para lá do que as minhas mãos possam segurar.
Nem sempre sei se o que vejo é exato, e por isso
paro e espero de mãos pousadas no muro entre mim e o sonho,
Entre um segundo e outro, compreendo mais uma vez o sentido do que me move
nesta esfera em que por vezes me encontro perdida.
Estico o braço e toco o imenso à minha volta com a ponta dos dedos,
e no instante que se segue o meu sonho é o bater do coração de quem amo,
tão real como real é a melodia dos corações que ouço bater,
neste uníssono que é sentir…
nesta esfera que é viver…
E mesmo que o que vejo não pareça nítido,
sigo pelo caminho que se me traça, até onde a vista alcança,
o coração almeja, e o corpo deseja chegar;
apesar de tudo, contra tudo,
E a favor do amor.
Esta sou eu…
Não para sempre, mas sempre enquanto existir.
Ilustração e seguinte texto © by Patrícia Magalhãess
De repente interrompo o gesto automático e fico com a mão suspensa, parada no tempo.
Há um olhar atento que me fixa sem se desviar, uma linha por boca, sem forçar qualquer expressão,
olhos que em seguida rodopiam, alternando o branco e a iris.
Sou eu, distorcida, e é tudo há minha volta.
As luzes mescladas de tantas fontes tentam-se sobrepor e reclamar destaque.
Claridades que ofuscam quando as olhamos no filamento mais íntimo queimam pontos na minha retina,
e transformam o que vejo, alternando o real e o negativo.
Sou eu, intermitente, e é tudo há minha volta.
Rodo e mudo o ângulo, giro para o outro lado e inverto de novo, lentamente.
Na superfície os motivos sucedem-se, completam-se num desenho infinito, até onde consigo ver,
geometrias habituais , intercalando o espelho e o baço.
Sou eu, interrompida, e é tudo há minha volta.
O mundo que se reflete é-me tão familiar, é quase o meu mundo, escondido sobre uma patine colorida.
Levanto os olhos e foco mais além, alternando entre o autêntico e o filtro.
Sou eu, através de uma película de cor, e é tudo há minha volta.
Com o mesmo repente com que parei, retomo o gesto.
No meio de todos os enfeites, procuro um ramo vazio e penduro a bola de Natal, reflexo de mim e de tudo há minha volta.
Tributo à gravura “Auto-retrato Num Espelho Esférico” de M. C. Escher (1935)
Adorei o texto ❤
ResponderEliminarBeijinhos ❤
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