Já sem tocar com os pés no chão, uma vez que sabiam e podiam
flutuar, Kiroan e Haran chegaram-se perto da porta. Kiroan era o único a poder
entrar. Haran estava por ora no seu limite de ação. Agora só o jovem ninja
podia entrar e vencer aquele monstro. Kiroan levava consigo apenas um espelho
para refletir os olhos da serpente, e um objetivo no seu coração, tão invisível
como ele mesmo, naquele momento.
Eu acredito, foi tudo o que pronunciou para si mesmo, antes
de flutuar para dentro da enorme sala onde a serpente incandescente parecia
dormitar enrolada a uma enorme pedra branca e salpicada de pequeninos cristais
muito brilhantes, na qual o sabre estava pousado.
Na parede a sua frente, Kiroan via escrito com runas, uma
frase que leria em voz alta para a serpente ouvir. Nessa frase havia uma palavra
escrita completamente ao contrário, com runas que pareciam feitas em outros
formatos. Não se podia chegar perto da serpente uma vez que esta queimava todos
os que dela se aproximavam e o seu fogo, bem como o seu veneno contido num
espigão que existia na cauda, eram mortais.
- Eu sei a frase, serpente.
O enorme monstro incandescente como fogo ergueu a cabeça,
mas não o olhou. Não conseguia ver nem sentir de onde vinha a sua voz. Que era
um ninja que a viera defrontar, isso ela sabia, mas este ninja não era como os
outros ninjas. Este, ela não podia ver, ela não podia tentar matar com os seus
olhos âmbar, porque não lhe sentia a presença. Tão somente ouvia a voz que lhe
falara.
Sem se desenrolar da pedra que guardava, onde o sabre estava pousado, a enorme serpente movimentava a cabeça de um lado para o outro, numa busca frenética para descobrir de onde viera aquela voz.
Sem se desenrolar da pedra que guardava, onde o sabre estava pousado, a enorme serpente movimentava a cabeça de um lado para o outro, numa busca frenética para descobrir de onde viera aquela voz.
- Nessa frase, monstro, a palavra que falta é: Solidão. A
frase, monstro, é: Entregues unicamente ao fogo, não descobrimos o amor, mas
descobrimos a solidão.
Tão logo terminou de dizer a frase, Kiroan, lançou-se num
flutuar frenético, uma vez que a serpente enraivecera-se com o facto de ouvir
daquela voz tão desconhecida, a verdade da sua essência enquanto monstro.
Porém o monstro tinha de a ouvir, antes de morrer, para que
outros monstros como aquele não renascessem das cinzas, pois fora das cinzas
que a serpente incandescente viera.
Kiroan flutuava, e ao tentar fazê-lo cada vez com mais
velocidade, tanto para fugir do corpo cada vez mais próximo da serpente, como
para conseguir assim colocar diante os olhos âmbar, o espelho que trouxera, era
assaltado pelo medo de que as forças se lhe acabassem. A serpente ficaria
desfeita em cinzas quando os seus olhos se refletissem no espelho, e naquele
momento era preciso dar tudo por tudo, para conseguir fazê-lo. Cada vez mais
fraco e mais cansado, e com o calor do corpo do monstro a incomodar devido a
proximidade que era cada vez maior, o medo teimava em querer surgir. Mas não.
Kiroan, o jovem David não sentiria medo, não seria vencido pelo medo. Os seus pais esperavam-no e os seus avós
também. Havia um mundo de ninjas para voltar a unir, e dois mundos para
deixarem de estarem tão distantes, uma vez que juntos seriam bem melhores, bem
mais fortes.
Foi ao lembrar as palavras da sua mãe: (Não tenhas medo. A
força que há em ti, é sempre maior que a que podes entender. Volta tão logo
possas. Esperamos-te, com o mesmo amor de sempre.) que da sua garganta já tão
seca pelo calor que sentia, arrancou o grito que lhe devolvia a confiança: Eu
acredito!
Enquanto gritava, o mais confiante possível nas forças que
lhe restavam, Kiroan, colocou o espelho diante os olhos do monstro e entre
manobras tidas por instinto, e um cansaço que já lhe fazia sentir dor, viu
fecharem-se os olhos da serpente. Não podia desistir, ainda não. Estava quase.
Porém o seu corpo estava cada vez mais fraco, e flutuar era-lhe cada vez mais
difícil. A qualquer momento cairia. Mas o corpo daquele monstro estava tão
perto…
Quando os olhos da serpente ficaram totalmente fechados, Kiroan soube que estava perto do final. E ao ver o corpo da serpente espalhar-se inerte pelo chão e começar a perder a sua incandescência, Kiroan tivera a certeza que só lhe faltava segurar o sabre, para depois partir.
Quando os olhos da serpente ficaram totalmente fechados, Kiroan soube que estava perto do final. E ao ver o corpo da serpente espalhar-se inerte pelo chão e começar a perder a sua incandescência, Kiroan tivera a certeza que só lhe faltava segurar o sabre, para depois partir.
Quase sem forças e a rasar o corpo da serpente, o ninja
aproximou-se da pedra, que estava mais quente do que ele esperava e segurou o
sabre. Era um sabre tão leve, tão bonito, tão brilhante. E encaixava-se tão bem
na sua mão. Podia ter apreciado mais o momento, mas as suas forças teimavam em
terminar.
Não aguentando mais, deixara o sabre cair sobre a pedra, e o
seu corpo resvalava logo depois para o chão. A ultima cena que percebera
acontecer, era um uivar tão doído e tão aflito, seguido de um bater de asas tão
próximo e tão urgente que vinha na sua direção. Não se apercebera de mais nada.
Perdera os sentidos. E quando os recuperou, Kiroan,
encontrava-se deitado numa cama enorme e muito macia. Ao seu lado, no chão,
junto a cabeceira da cama, estava Lyra. Deitada a olhá-lo atenta e meigamente.
Quando os olhos dele cruzaram os dela, Lyra levantou-se satisfeita e ladrou.
Pouco tempo passou até o seu velho avô entrar no quarto, seguido dos pais de
David e logo a trás Haran. Estavam todos ali, como sempre. Não estaria só.
- O que foi que aconteceu? Só me lembro de…
O avô fez sinal a Haran, para que fosse ele, como já o havia
feito tão logo tudo terminara, a contar ao jovem como tudo aconteceu, depois de
ele ter caído devido ao imenso calor e a consequente falta de força por causa
do esforço.
- David, corajoso ninja Kiroan, tu venceste aquele que foi
um dos piores monstros da história dos ninjas. A serpente foi totalmente
extinta. Ia-te custando a vida, bem sabemos. Mas nunca, e em momento algum
deixámos-te só. Estivemos sempre lá, contigo. Salvaste e devolveste o sabre. E
como dormiste por 3 dias seguidos, para recuperares, devo informar-te que
Karamin está em paz. Os outros ninjas, ouviram o teu avô, nosso Koroan e,
reconheceram ter perdido nesta batalha todos os motivos parvos que os faziam
continuar virados contra nós. Não somos amigos, mas, já não somos inimigos,
também. Sabes que para vivermos em paz entre os mundos, é preciso cultivar a
paz entre os povos, primeiramente. O sabre devolveu a luz às mentes de todos, e
era isso que se pretendia. E eu sei que ainda te confunde um pouco o facto de
seres tu o ninja escolhido, meu filho, Mas, o teu coração puro, quando segurou
o sabre, devolveu-lhe a capacidade de irradiar a luz e a magia que outro
coração não poderia devolver.
Cumpriu-se a profecia. És um ninja, Jovem David.
Com um sorriso que demonstrava a alegria de uma missão tão
importante ter sido cumprida, David agradeceu e abraçou cada um dos presentes.
E recebeu pelas palavras de Haran e do seu avô, os votos de uma rápida
recuperação, enviados pelos outros ninjas.
- Mas Haran, de onde veio a fénix que vi antes de perder os
sentidos?
- Olha para o teu lado. O teu coração tem a resposta a tua
pergunta. Foi tudo o que ele lhe disse, e David não precisou de mais nem uma
palavra para entender o que Haran lhe dissera.
Esticou o braço e Lyra aproximou-se, colocando a cabeça sob
a mão do rapaz. É só preciso confiar, Lyra. E eu, tu sabes, confio em ti.
Lyra não falaria com ele, mas David sabia que ela também
confiava nele. Há coisas que não são necessárias dizer. Basta sentir.
Porque o coração é uma espece de diário da alma, reservado unicamente
para os que sonham e acreditam.
*** Fim. ***
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