domingo, 12 de junho de 2016

Pela Magia de Acreditar - 2ª Parte



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Apressou-se a erguer o tronco do chão, ficando sentado, e olhou em volta. Encontrava-se no meio de um lugar com relva alta, macia e bem cuidada. Atrás de si estava um cipreste muito alto, e como aquele, outros tantos ciprestes, pinheiros, eucaliptos e tantas outras diferentes árvores, era do que mais havia por ali. Enquanto olhava ora para o chão, ora para as árvores e para o céu, tão azul e apenas com pequenas nuvens salpicadas aqui e ali em jeito de marcar uma leve diferença, ouviu um som diferente. Algo tão leve, quase tão leve como uma pluma caíra ao seu lado. Mas, ao olhar para o lado de onde viera aquele som, o que via aproximar-se era uma figura alta, vestida quase toda de preto, com um corpo esguio e com alguma coisa a cintura que parecia ser uma pequena espada. Apeteceu-lhe falar, porém não sabia se deveria falar com aquele estranho que em duas passadas chegara bem perto de si e postara-se atento a olhá-lo. Alguns momentos decorreram até aquele estranho encher um pouco o peito de ar e dizer numa voz séria mas amigável:
- Eu sei que não sabes porque estás aqui. Sei que nunca te disseram que virias aqui. Sei até que vais duvidar que estiveste e vais voltar aqui. Vê la tu, que eu até sei que vais guardar em segredo que estiveste aqui. Mas há quem sabe que mais tarde ou mais cedo, tu virias aqui. Acho é que se esqueceram de te dizer.
David, confuso, olhou o estranho de alto a baixo e com uma das mãos revolveu um pouco a relva ao seu lado. Gesto de quem prepara uma pergunta, mas nem sabe qual, entre tantas que queria e precisava de fazer.
- Hã… Que lugar é este? Disparou. Não pensara se calhar na pergunta certa a fazer. Afinal de contas devia ter perguntado primeiramente quem era aquele homem. E quem é que sabia que ele ali iria parar. Como é que aquele homem sabia que ele ali ia parar…
- Muito bem, rapaz. Estás em Karamin, a ilha dos ninjas. Nunca leste nada a respeito, nem ouviste falar, pois não?
- Karamin? Ilha de ninjas? Não… Respondeu David, cada vez mais intrigado com o que se estava a passar. Se isto é Karamin, como diz, coisa que de nada sei, então quem é o Senhor?
- Eu? Respondeu o estranho com um sorriso que lhe escapava dos seus olhos tão negros e tão perscrutadores. Eu sou Haran, o ninja que veio ao teu encontro para te levar a um lugar muito importante.
- Lugar importante? Que lugar? Eu nem sei como vim aqui parar, quanto mais ir para outro lugar que à semelhança deste, nada sei?
- Não se enganaram. És mesmo tu… Disse o estranho ainda de pé a olhar para o rapaz que parecia momento a momento sempre um pouco mais confuso.
- Sou mesmo eu?
- Sim és mesmo tu, jovem David.
- Mas claro que sou mesmo eu! Mas quem é que raio não se enganou, e em que é que não se enganou? Podia deixar-se de meias palavras e falar? De outra forma, não saio daqui! A voz de David elevara-se um pouco e o seu olhar sério fitava agora o homem postado de pé ao seu lado.
- Muito bem. Disse o homem numa voz tranquila. Vou explicar-te o que puder, o que souber, mas, rapaz, depois e quando eu disser que não há nada a dizer, vens comigo. Tens de vir e é tudo. Promete que vais cumprir com o que te estou a dizer. Caso contrário eu não conto, e terá de vir outra pessoa para me substituir.
David acenou afirmativamente com a cabeça e numa voz baixa, porém mais cordial que a instantes atrás, prometeu que faria como Haran lhe dizia para fazer.
- Ouve-me então, rapaz. O olhar do estranho era agora algo fixo num ponto qualquer que só ele podia encontrar. Tu és neto de Koroan, o nosso líder desde há muitos anos. Um ninja como poucos houveram na história. Koroan é o teu avô no mundo dos humanos comuns. Porém nem tu nem ele são tão comuns assim. Tal como o nosso Koroan – o teu avô no mundo dos humanos comuns, tu és um ninja. Eu sei… Eu sei que tudo isto parece estranho, porque o teu avô, no mundo dos humanos comuns não se chama Koroan e nunca o viste agir como um ninja. Pois é. Só havia duas pessoas que sabiam quem era o teu avô na verdade. E só elas é que sabem ainda hoje quem foi e será para sempre o teu avô, assim como só elas é que sabem quem tu és. Ao ver que o jovem acumulava perguntas e quase que sufocava por não as poder fazer, o estranho sentou-se ao seu lado e fez sinal para que esperasse.
- Deixa-me continuar. A tua avó, esposa do nosso ninja soube desde sempre quem ele era. Não deixa de ser uma humana comum, porém, foi desde sempre, desde que se apaixonou perdidamente pelo teu avô, uma guerreira e uma mulher quase tão ninja como nós. E a tua mãe... Ah, a tua mãe… Descobriu que o pai era ninja por acaso, mas sempre agiu como a tua avó. Souberam manter segredo e sempre ajudaram em tudo o que podiam quando havia missões. Duas ninjas, sem que o fossem verdadeiramente. Quando nasceste, David, a tua mãe tão logo te olhou, soube que eras um ninja, mesmo o teu pai não sendo um de nós. Nunca questionou nada. Pois sabia que ser ninja estava-lhes no sangue. Coisas de antepassados. Coisas que só vais entender com o tempo, meu rapaz. David voltou a acenar afirmativamente com a cabeça, mas desta vez o seu olhar demonstrava que havia ainda tanto para descobrir e agora ninguém o ia parar. Queria saber tudo. Precisava de saber quem era. Não sabia se era aquele ninja sentado à sua frente quem lhe iria dizer, se teria de ser ele a descobrir, mas, sabia que nada nem ninguém o ia parar. Afinal era um ninja. Quantas? Quantas vezes brincara com o facto de ser um ninja? Foram tantas as vezes que dissera para si mesmo e não só, que era um ninja? Tantas vezes… Foram tantas as vezes que fora um ninja no seu quarto, na sua imaginação.
- David? Vamos agora? Vai ficar tarde e temos de ir. Há coisas para fazer enquanto é dia aqui e noite no mundo dos humanos comuns.
- Só uma coisa. Responda-me só a uma coisa, antes de irmos. Pediu o rapaz.
- Sim. Diz lá. Respondeu pacientemente Haran, enquanto se erguia da relva onde se sentara para falar com o jovem assustado que ali fora parar.
- Se tu és Haran, o meu avô é Koroan, quem sou eu, neste mundo dos ninjas?
- Tu? Tu és Kiroan, o ninja neto do nosso líder. Ao terminar a frase, Haran levantou-se e fez sinal a David para que fizesse o mesmo.
- Vamos? Davide acenou afirmativamente e ergueu-se rapidamente do chão para seguir aquele ser tão fantástico e ao mesmo tempo ainda tão desconhecido e que tanto tinha para lhe contar. Teriam de pôr-se a caminho.
Não era muito longe dali o lugar até onde tinham de ir, mas haviam coisas a fazer.
Enquanto caminhavam, David ainda fez mais umas perguntas ao seu acompanhante. Perguntas essas que Haran respondia sem mostrar qualquer tipo de reserva em responder, porém o jovem sabia que se Haran não lhe pudesse ou soubesse responder a alguma coisa, ele teria de esperar. Tinha de saber esperar até chegar ao momento certo de lhe serem respondidas todas as suas perguntas.


(…)

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