Desenhei, por tantas vezes
imaginei ver chegar aqui.
Deixei que me escorresse dos dedos, a
tinta com que compus palavras que
pensei usar p’ra expressar todas as coisas que fora capaz de sentir até então.
Atrevi-me a ter coragem de planar sem medo
sobre a plenitude de ser. E fui – a mesma que
todos conheceram; a mesma que
a dor e a felicidade momentâneas obrigaram a crescer
de um dia para o outro; de
um ontem para hoje que o tempo não soube abrandar.
Hoje ainda não sei ao certo,
se as coisas, a serem de outra forma,
fariam de mim alguém tão diferente.
É que restaram-me tantos sonhos, tantas dúvidas e,
a pergunta de quantas feridas seriam precisas
p’ra não sentir mais a dor de não saber o que fazer,
com o fogo que ainda me queima, farto e lento no peito, e
com a tinta guardada para tantas linhas que não pudera até então
escrever.
Tenho agora medo que me seque a tinta com que escrevo.
Tenho ainda mais medo que se percam no tempo
todos os sonhos que trago comigo por realizar.
Tenho tanto medo que hoje já seja depois;
e então o fogo que me aquece se estinga, deixando-me ainda mais só,
do que só é a última palavra que tantas vezes
acabo por não dizer a quem,
a bem da verdade, não está para me ouvir.
Ah, mas não faz mal.
Ainda me resta a sisudez deste silêncio e,
o crepitar enérgico das chamas na lareira.
Hei de ver morrer a ultima chama e,
hei de ver nascer tanto amor – aquele amor
que será a razão e a tinta para que escreva mais um
ou mil poemas que atravessarão o tempo – o mesmo tempo que,
já sei, este fogo não gela e,
esta tinta destaca como um grito preso na garganta - um nó sufocante,
que o coração expulsa com o impulso de continuar a bater.
A fogo e a tinta – um ou mil versos
que em reversos mostram tudo aquilo que sou – a criança ou a mulher
que ainda espera pelo fim de uma solidão que teima em não se acabar.
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