quinta-feira, 4 de junho de 2015

Um Relógio Sem Tempo, de um Amor que Não Existe

 

Agarro-me ao tempo que temos, por medo que seja menos que o tempo que existe.

Este relógio, de um amor que não vivemos está parado, mas ainda espero pelos

momentos vividos a dois.

Não morro nos teus braços, mas não vivo sem um abraço vindo de ti.

Ainda te espero como o verão pelo outono e, ainda

canto o teu nome numa balada que tu não ouves nem sabes que compus para ti.

 

E depois da última palavra que me dizes, durmo todas as noites lado a lado

com a solidão. Tão só como o relógio de um amor

que não temos, e como os ciprestes que sós

sentem arrepiados a carícia que o vento ao passar lhes faz, quer seja

noite, quer seja dia, pois para o vento, não há relógio, nem tempo,

nem lugar a que prender-se…

 

E eu, guardiã de memórias, acaricio as paredes desta casa,

tão cheias de mim e de conversas que recordo, e tão cheias de palavras escritas em

poemas, histórias e baladas, que têm o teu nome,

mas tu nem sabes que te escrevi, diante ti,

ou diante o teu lugar vazio.

 

O tempo muda, e muda-nos, mas o relógio está parado.

E o amor, que não muda, é, só mais uma vez,

o motivo das minhas palavras.

Quantos sonhos ainda vou guardar em baixo da almofada, até que um dia te os possa contar,

e então tu entendas que a vida muda,

na vida tudo muda, mas o amor, não…

 

*

 

 

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