Fechei a porta atrás de mim e,
vou-me embora.
O relógio de pulso não funciona, mas estou com tempo.
O bilhete, no bolso de traz das jeans é só de ida,
porque voltar, não é plano que leve comigo, agora que parto.
Deixo a chave no fundo do bolso, propositadamente esquecida.
Quero esquecer todas as histórias até então vividas;
é que escrevi a lápis de carvão uma vida inteira,
num caderno que me pertencia.
Só que a vida, descobri:
já não me cabe num caderno;
e as marcas de quem fui: já não há
espaço no peito, para que as guarde;
e os planos que fiz, perderam a razão de ser, até
mesmo, quando os escrevi a lápis de carvão.
O pouco que sei é
o único mapa que tenho.
A viajem é longa, mas vou fazê-la.
Há pouco que cá fica, que cá me prende e,
tudo o que sei até hoje já não basta;
porque de todas as respostas que precisava, poucas me deram; e
de todas as certezas que tinha, só meia dúzia me sobraram.
Levo escrito na palma da mão o nome e,
um passado sem rosto que me pertenceu.
Pontas soltas não deixo, porque os laços
Há muito que se desfizeram.
As amarras eram um cais sem lugar para mim,
porque talvez fosse eu, de lugar nenhum; qual barco
à deriva, nas ondas de uma vida sem portos de abrigo seguros,
para onde voltar.
Há um raio de sol que se me coloca sobre os ombros.
Talvez seja o último abraço
de quem me viu crescer.
Resta-me o conforto das não recriminações que
este abraço não me diz e,
resta-me, sobre a mesa de padrão complicado, que
acompanho distraída com os dedos, o
último café quente que tomo neste lugar, onde tantas
Vezes vi chegar novos dias e,
tantas noites que,
já sei: apagar-se-ão da minha memória,
Com o tempo.
Observo estranhos e carros, rumo
às suas próprias vidas.
Atravesso a estrada, e olho mais uma vez, por segundos,
a mesa onde estivera e,
o rosto que me deu um sorriso como moeda de troca, pelas
minhas moedas, que lhe dei p’ra pagar o café.
Não disse adeus ao vir-me embora.
Não disse nada, foi melhor assim.
Deixei as despedidas p’ra trás, como
p’ra trás ficaram planos
e cadernos cheios de palavras, que um dia
me serviram de almofada,
para encostar todos
os sonhos que não pude concretizar…
É que os sonhos são sempre livres, as realidades nem sempre são.
Sinto o vento a remexer-me os cabelos.
Não sei se é uma festa que me faz
de encorajamento ou, reprovação…
É que amanhã o lugar é outro, onde estarei;
mas a vida é a mesma,
eu sou a mesma…
O que eu sinto é que talvez, não.
*
Muito bonito e comovente,escreves sempre muito bem, Joana, beijinhos
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