segunda-feira, 5 de agosto de 2013

As Coisas que Eu Não Digo


As coisas que eu não digo, são
as mesmas coisas que eu sinto cá dentro, no
mesmo lugar onde bate o coração - guardião de
segredos e outras coisas que ficam por dizer no passar das
horas - as mesmas que me afastam do hoje que
será um amanhã e foi
um ontem cheio de todas as coisas que eu calei; porque
eram as coisas que só o coração podia entender.

As coisas que eu não digo, são as sombras
para onde fujo, o sótão silencioso onde
grito, choro e me refaço, quando tudo o que sinto dói
mais que qualquer nada que me possa valer, e de onde
olho minuciosamente a vida que é minha e
a dos outros - o espaço vazio é tudo o que nos liga, sem mais nada que
eu possa contar.

As coisas que eu não digo, são as feridas que guardei das
guerras que passei, os espinhos das rosas
que a vida me deu e os sonhos desfeitos
que foram as únicas coisas que me sobraram, depois de dar o
melhor de mim a quem
nada me deu.

 As coisas que eu não digo, são os poemas que deixo escritos
mas o tempo há-de apagar, quando
eu não estiver para reacender a chama de ser, e
quando a minha presença não for mais que o vento lá fora a dançar com a
chuva de inverno e as
ondas de um mar revolto e tão salgado, como
as lágrimas que não espero que
chorem por mim, quando se lembrarem de quem eu fui

um dia, por entre as coisas que não disse, por já
não ser tempo de as dizer.

Ai! As coisas que eu não digo…

                    *                  

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